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Quando a história vira obstáculo: O caso do abrigo de Gandu

O Abrigo de Gandu está com os dias contados. Aquela estrutura antiga, que já foi a rodoviária da cidade, agora não tem mais utilidade prática. Ao olhar para ele, vejo um toque de arquitetura Bauhaus pós-Segunda Guerra Mundial, mesmo sem ser nenhum especialista no assunto. Hoje, ele não cumpre lá muitas funções além da histórica. E mesmo essa, convenhamos, anda com os dias incertos.

É um imóvel peculiar, não muito diferente de outros “abrigos” espalhados pelo Brasil. Já foi ponto de ônibus, de bondes, de encontros. Mas o tempo passou e transformou o que antes era indispensável em algo que já não se encaixa na cidade. Seu formato padrão se repete por aí, mas cada um tem suas histórias. O nosso, infelizmente, tem poucas memórias guardadas em mim.

Para ser sincero, não são tantas as lembranças que mantenho do Abrigo. O bar nunca foi o mais famoso, a lanchonete tampouco se destacava. Eu, aos meus 33 anos, só carrego a recordação de uma loja de brinquedos, onde a Mãe de Vida Marina vendia figuras de ação do Dragon Ball Z que eu tanto desejava na infância, mas nunca tive dinheiro para comprar.

O espaço é valioso. Não há como negar. Gandu mudou. As marquises do Abrigo, antes refúgio para os poucos transeuntes e motoristas que passavam, hoje atrapalham o trânsito. Os caminhões imensos que cruzam a cidade parecem reclamar silenciosamente a cada manobra difícil. O Abrigo virou um peso para o fluxo caótico de carros que a modernidade trouxe.

Quando o construíram, a cidade era outra. Uma Gandu mais tranquila, de poucos carros e ritmo desacelerado. O Abrigo tinha uma função que ia além de sua estrutura. Era um ponto de chegada, de partidas, de encontros e despedidas. Hoje, porém, parece não mais se encaixar na paisagem urbana frenética.

E o que fazer com ele? A ideia de demolição traz controvérsias e me deixa com a cabeça de caixa d’água ainda mais cheia de dúvidas. Derrubar para abrir espaço ao trânsito ou restaurar, na esperança de uma nova função? Mas sejamos realistas. Essa história de transformar o lugar em um centro cultural, um teatro, ou um espaço para atividades artísticas… é bonito no papel, mas sabemos que não é isso o que a prefeitura vai fazer.

O mais provável é que tirem as marquises, envelopem tudo com cores chamativas — amarelo, branco, azul — e transformem o local em quiosques modernos. É a solução prática, mas também fria. E, talvez, até um pouco triste.

Estou confuso. Pela primeira vez escrevo uma crônica em que não sei bem o que penso. O Yuri que ama história quer que o Abrigo fique, mantenha suas marcas e memórias. Mas o Yuri que entende a necessidade de progresso vê o Abrigo como um obstáculo para o futuro da cidade.

E você, o que acha? Deixe o passado e abra espaço para o novo, ou segure o tempo pelo braço, mesmo que ele queira correr? O Abrigo é apenas um prédio velho para alguns, mas pode ser um marco na alma de Gandu. Afinal, cada um decide o que fazer com o peso das suas memórias.

Por Yuri Moreira

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